sábado, 1 de julho de 2017

http://veja.abril.com.br/educacao/a-escola-esta-ultrapassada/


“A escola está ultrapassada”

Autor de best-seller americano explica por que desenvolver habilidades emocionais desde cedo é tão essencial para o sucesso na vida adulta

Nas rodas de educação, muito se fala sobre habilidades socioemocionais, que fogem da cartilha do conteúdo propriamente dito, como colaboração, curiosidade e capacidade de resistir às adversidades. Às vezes, o debate é ainda etéreo; noutras, começa a ter feições mais claras, indicando caminhos de como desenvolvê-las. Em sua extensa pesquisa, o jornalista americano Paul Tough, 50 anos, autor do livro Como as Crianças Aprendem (Ed. Intrínseca), vai por esta linha mais objetiva e sem academiquês. Ele foi a escolas e entrevistou economistas, psicólogos e neurocientistas para entender a relevância de tais habilidades no competitivo século XXI. Em visita ao Rio de Janeiro, Tough falará sobre o tema neste sábado (1) em um encontro organizado pelo grupo educacional Eleva. A seguir, os principais trechos da entrevista que concedeu ao site de VEJA.
Seus livros enfatizam a importância das chamadas habilidades socioemocionais no desenvolvimento infantil. Elas podem ser ensinadas?
Sim, em casa e na escola. Um ensino de qualidade, voltado para este século, não deve mais se restringir àquele conjunto limitado de capacidades medidas em testes padronizados. O conhecimento continua, claro, a ser fundamental, mas os especialistas já têm clareza de que há este outro lado do aprendizado que é também determinante para o sucesso na vida. São habilidades que podem soar abstratas: garra, otimismo, curiosidade, trabalho em equipe, resiliência – é possível lapidar todas elas.
O senhor afirma que o melhor momento para as crianças aprenderem tais habilidades é na primeira infância, antes mesmo do primeiro dia de aula. Como os pais podem ajudá-las?
Primeiro, não fazendo com que os filhos se sintam sob pressão. Estudos recentes na área da neurociência mostram que, quando as crianças estão num ambiente altamente estressante, elas têm mais dificuldade de desenvolver essas características que mencionei. A boa notícia é que a melhor defesa contra o estresse infantil está justamente nos pais. A explicação é fisiológica. Se mantêm relação forte e calorosa com os filhos, essas crianças registrarão menores níveis do hormônio do estresse no organismo e estarão em condições melhores para aprender.
O que o senhor observa em comum entre as crianças com mais dificuldade de desenvolver habilidades socioemocionais?
Muitas crescem em um ambiente de adversidades, na extrema pobreza ou submetidas a abuso e negligência. São justamente essas que precisam de mais ajuda. Infelizmente, são também as que costumam receber educação de mais baixa qualidade. Elas precisam ser mais desafiadas. Quando isso ocorre, respondem de forma tão positiva quanto aquelas que vivem em situação mais favorável.
Quais habilidades o senhor considera mais importantes nos dias de hoje?
Sem dúvida, coloco no topo da lista a perseverança e a capacidade de lidar com os obstáculos. Elas são essenciais para a resolução de problemas, para um bom trabalho em equipe e para administrar a frustração diante do fracasso. Cabe aos adultos dar as ferramentas que as crianças precisam para aprender com os erros e se superarem.
Como desenvolver essas habilidades?
Gosto de alguns métodos adotados atualmente. Um deles é trocar a lição tradicional por projetos mais extensos. Em vez de o aluno decorar fórmulas e preencher fichas, ele é forçado a trabalhar em grupo, debruçado sobre vários assuntos e no longo prazo. Esse tipo de tarefa não estimula apenas a perseverança: incentiva também o que a ciência chama de inteligência elástica, capacidade que o aluno tem de se tornar cada vez mais inteligente.
O que mais a escola pode fazer?
Há um senso comum de que devemos dar tarefas fáceis para crianças que enfrentam dificuldades porque assim elas terão uma sensação de realização. Mas isso, na realidade, provoca o efeito contrário. Quando não as instigamos a concluir tarefas complexas, a mensagem é de que o professor não acredita em sua capacidade. Por outro lado, com trabalhos desafiadores e apoio adequado, elas não só aprendem matemática ou ciências como consolidam a autoestima, porque entendem que podem ser bem-sucedidas, que podem se superar. Cito em um de meus livros o trabalho de uma professora de um colégio no Brooklyn, em Nova York, que fazia críticas minuciosas e muito duras a alunos que praticavam xadrez. Assim os ajudou a analisar e a entender seus erros sem que se sentissem derrotados e a desenvolver autocontrole e motivação.
Que países estão fazendo a lição certa?
Ainda não encontrei um país que tenha um bom sistema para ensinar essas habilidades tão requeridas no século XXI. Vejo em muitos deles grupos de educadores atentos a essa questão, em um esforço para encontrar uma maneira de reformar as velhas escolas. Todo mundo se queixa da dificuldade para mudar o ensino. Há barreiras institucionais que precisam ser rompidas para que essa ideia seja disseminada.
Como medir o desenvolvimento de algo tão abstrato como garra ou curiosidade?
Essa medição ainda é um desafio e muitos pesquisadores sérios estão concentrados nisso. Qualquer pai ou professor é capaz de perceber quando um aluno está determinado. Se ele se esforça, está motivado e se envolve nas atividades propostas, é sinal de que a escola está no caminho certo.
Existe um relação entre habilidades emocionais e cognitivas?
Existe. O aluno que vai bem no lado socioemocional tende a se sair melhor nas provas.
A escola é uma instituição ultrapassada?
De modo geral, sim. Deveríamos preparar nossos jovens para carreiras que exigem um nível muito maior de criatividade, colaboração e flexibilidade do que as de trinta anos atrás. No passado, havia muitas profissões em que bastava o funcionário bater ponto, obedecer ordens e executar tarefas repetitivas. Hoje não funciona mais assim, mas as escolas não acompanharam as mudanças do mercado de trabalho.
Que escolas vêm fazendo um bom trabalho?
Gosto do trabalho da Expeditionary Learning Schools, uma rede de 150 escolas nos Estados Unidos. Um dos métodos que aplicam é chamado crew: consiste em formar grupos de dez a vinte alunos que são reunidos no primeiro dia de aula e que fazem encontros todas as manhãs — isso até o fim da carreira escolar. Esses estudantes desenvolvem senso de pertencimento e capacidade impressionante de produzir em equipe. Acho que esse modelo poderia ser replicado.
Como reconhecer uma boa escola?
São aquelas que, por meio de diferentes métodos, não importa, conseguem estimular os alunos a deixar a superfície e a fazer perguntas mais densas. O ensino baseado em projetos e na investigação são mais eficientes do que aquele que incentiva a memorizar fórmulas, como ainda é tão comum. Por serem curiosas, crianças são genuínos cientistas, mas a escola tira isso delas.
EDUCAÇÃO BÁSICA

Canal Futura irá transmitir audiências públicas sobre a Base Nacional Comum Curricular

    • Quarta-feira, 28 de junho de 2017, 11h58
    • Última atualização em Quinta-feira, 29 de junho de 2017, 18h03
    As audiências públicas sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que o Conselho Nacional de Educação (CNE) irá promover nas cinco regiões do país a partir de julho serão transmitidas ao vivo pela internet pelo Canal Futura. A iniciativa é fruto de uma parceria do Ministério da Educação com a emissora para garantir o acesso da sociedade aos debates em torno do documento. Porém, a geração de sinal está aberta para outros parceiros que queiram transmitir.
    “Essa parceria é fundamental para ampliar a participação das escolas e professores no debate sobre o documento, principalmente para que os participantes possam conhecer e oferecer ideias e sugestões para a implementação da Base Nacional Comum Curricular”, disse a secretária executiva do MEC, Maria Helena Guimarães de Castro. As audiências visam colher contribuições para a elaboração do parecer e de um projeto de resolução que, uma vez homologados pelo MEC, se transformarão em norma nacional.
    Serão cinco audiências ao todo, uma em cada região do país. A primeira ocorrerá na região Norte, dia 7 de julho, em Manaus. Para o dia 28 de julho está agendada a audiência pública da região Nordeste, que será realizada no Recife. Em agosto, haverá audiências dia 11, na região Sul (Florianópolis), e dia 25, na região Sudeste (São Paulo). No dia 11 de setembro ocorrerá a última audiência, no Centro-Oeste (Brasília).
    Os eventos contarão com a participação de órgãos, entidades e especialistas ligados à educação, além de convidados do CNE. Todas as audiências serão abertas ao público e, os que desejarem participar presencialmente, devem se inscrever na página eletrônica criada pelo CNE para orientar os interessados, observando o calendário de cada região. As inscrições para a audiência pública de Manaus estão abertas até esta quinta-feira, 29.
    Outras informações sobre as audiências regionais também podem ser consultadas na página do Movimento pela Base Nacional Comum na internet.
    Base – Construída a muitas mãos e consolidada este ano pelo Ministério da Educação, a Base Nacional Comum Curricular define os conhecimentos e habilidades essenciais que todo estudante brasileiro tem o direito de aprender. O documento vai nortear a elaboração dos currículos das escolas públicas e privadas de educação infantil e fundamental e de todo o país. Ele vem sendo discutido desde 2015 em articulação com estados, Distrito Federal e municípios, e foi entregue pelo MEC ao Conselho Nacional de Educação (CNE), que está em fase de apreciação do texto.
    Assessoria de Comunicação Social