domingo, 16 de novembro de 2014

As 10.639 palavras que devem ser ditas sobre educação



Debater educação é debater currículos, e é público e notório que a hierarquização dos currículos não admite discussões a respeito de tal questão, ou até mesmo a iniciar quaisquer diálogos sobre as possibilidades de observação e flexibilização dos mesmos, mediante pena de ter que descolonizar os currículos impostos, e isso implicaria numa prática diferente da educação subalterna com seu brilhante verniz burocraticamente meritocrático. Portanto, inevitavelmente seria necessário movimentar o monólito cultural do saber universal posto como verdade única pela monocultura dominante.


Desse modo, esse debate apontaria para uma forçosa reforma construtural o que abalaria toda a conjuntura vigente; (conjuntura) fundada na conflituosa relação entre oprimidos e opressores; onde os primeiros lutam pelo direito a ter direitos, enquanto os segundos constantemente criam mecanismos de instituir mais privilégios na incessante sanha de manutenção do poder. 


Isso deixa claros os interesses por trás da aprovação da lei 10.639/03; lei que supostamente viria beneficiar a 20% dos negros oprimidos pela branquitude, combatendo dessa forma, o que Frantz Fanon denominou de racismo epistemológico. Assim, cria-se e aprova uma lei sem, no entanto, dar condições para que a mesma seja aplicada e menos ainda instituir uma política educacional que a sustente. No caso contrário, se a lei fosse efetivamente aplicada, isso implicaria na demissão imediata de mais de 90% dos professores de história e de geografia, supondo que coubessem somente essas disciplinas a responsabilidade da aplicação da lei. Ou seja, simultaneamente são criados mecanismos para que as condições de aplicabilidade não aconteçam. Afinal, demissão em massa é proposta tão indecente como a inusitada ideia do docente voltar a ser discente.


Dessa forma, os governos garantem tal estrutura; camuflando suas próprias leis que exigem a formação continuada desse mesmo docente. Nesse caso, há um acordo implícito onde um não diz nada e o outro nada fala. Ou seja, ogolpe do mestre é fingir-se de morto.

Nesse caso, as 10.639 palavras se resumem a um amontoado de números de leis, decretos, emendas e incisos sem senso, siso ou sentido, adornando as estatísticas das notícias e as manchetes sensacionalistas dos candidatos a salvador dessa pátria que nos pariu. Desse modo, juntando a dubiedade das palavras e a frieza dos algarismos no caput legislativo, a justiça social cede espaço à execução penal que se enreda na cidadania plena, descrita como fim na definição da função educativa. 


Assim, palavras e números estabelecem a senha de acesso ao ser que deixou de ser, que desse entre-lugar deverá repeti-la 10.639 vezes até ser memorizada pelo esquecimento guardado nos escaninhos da educação subalterna; somente dessa maneira, teríamos as condições necessárias para iniciar qualquer de bate sobre o assunto educação.


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